23/09/13

O "duplo vínculo": a intolerância ambivalente no facebook

O "duplo vínculo" é o cancro da sociedade moderna, do capitalismo, segundo Gregory Bateson, a origem de muitas doenças, de muita auto-culpabilização.
"Vamos a um exemplo: a filha que já tem 20 anos de idade e resolve sair de casa e ir morar sozinha. Ela conta para a mãe e a mãe responde que está feliz por ela ter independência mas, ao mesmo tempo, saem lágrimas dos olhos. A qual mensagem a filha vai responder? A mensagem verbal ou a mensagem corporal? Talvez a filha resolva ter firmeza e sair de casa, mas fica com um sentimento de culpa e ambiguidade". in http://joaopedromeyer.blogspot.pt/2013/02/teoria-do-duplo-vinculo.html

A possível solução para evitar a culpabilização, para matar o mal pela raíz, exige entender a metacomunicação. Ser assertivo. "A única forma de sair de um paradoxo é a meta comunicação. É a comunicação que fala sobre a comunicação. No exemplo da filha, a saída seria ela dialogar sobre as duas mensagens que ela está recebendo e perguntar a qual delas ela deve dar mais atenção."  in http://joaopedromeyer.blogspot.pt/2013/02/teoria-do-duplo-vinculo.html

Foi esta a base, simplificando imenso,da experiência terapêutica de Gregory Bateson. O problema não é de solução fácil quando estas situações têm por detrás anos de dominação e de chantagem afectiva. Ou, no caso extremo, quando são a base de arquétipos inspirados nas sociedades patriarcais.

Ora, esta atitude repete-se milhares da vezes no facebook. É clássica no elogio de uma foto por uma mulher aparentando estar feliz com a beleza da amiga. São palavras cheias de veneno. Mas o pior é quando essas palavras se disfarçam por detrás do "amor" e pouco a pouco abafam a vontade de liberdade e de autonomia do outro.
O pior é quando somos educados por um progenitor que propaga esta doença. Falta de amor positivo.
É necessário distinguir muito bem entre culpabilização e sentido pessoal e autónomo de culpa,, a consciência dos erros que se cometem. A culpabilização é um veneno insidioso que pouco a pouco nos esvazia. E mais quando não sabemos a sua origem, quando perdemos o contacto com o nosso eu profundo e autónomo.

Livro sobre as redes sociais. "Você acha que usa a internet, mas está sendo usado por ela".

Extractos da entrevista a Bernardo Carvalho, autor do livro sobre a internet "Reprodução" (Companhia das Letras).
"Tive um processo longo de percepção de uma fascistização do mundo, de um jeito ambíguo, porque as pessoas criam o fascismo achando que estão encontrando a liberdade. A internet é libertária, democrática, mas também faz você entregar sua privacidade e se relacionar com corporações como se fossem Deus ou a natureza. Elas dizem: "Você não precisa pagar nada". E você se entrega acriticamente, porque a ideia de não fazer esforço é sedutora. E há o narcisismo, a exposição no Facebook, que pega um ponto central. É perverso, a conquista vai em pontos frágeis da psique, você se sente uma celebridade. Do ponto de vista político, você acha que está usando, mas está sendo usado. O livro expressa esse desconforto.
[...]
A internet "talvez tenha acirrado algo que sempre existiu em potencial. Você não tem privacidade, mas pode ter anonimato, o que permite uma manifestação de imbecilidade sob a proteção do anonimato. Estava incomodado com isso e pensei nesse narrador que representa o ódio absoluto, o anonimato da internet. No livro há uma frase do [filósofo espanhol] Ortega y Gasset: "Todo povo cala uma coisa para poder dizer outra. Porque tudo seria indizível". O personagem tem a informação absoluta, mas nada do que ele diz quer dizer muito. Não adianta você saber um monte de coisas, ser informado na superficialidade midiática sem uma compreensão do mundo. Você só reproduz, não consegue mais produzir.
[...]
Notei um ódio no qual reconheci esse anônimo da internet [protagonista do livro]. O protagonista cita os "colunistas" da mídia, que, nota-se, alimentam o ódio dele. Pensou em alguém específico? Isso resume várias pessoas. É uma grosseria de pensamento, gente que fala como se falasse com crianças. O problema não é ser colunista de direita, é o tipo de argumento primário e fácil de ser derrubado. O negócio é no grito porque é insustentável. E isso produz best-sellers no Brasil. Há uma espécie de inconsequência política que está no discurso desse personagem. A burrice era privada, mas agora é pública.
[...] A literatura passou a ser pautada pelo gosto da média. Mas literatura é reflexão, não só produto de consumo, não só contar uma história. Tem um elemento de rebeldia, de criação. Não sei se incomoda, mas esse livro me deu prazer de fazer e me dá prazer de ler. Há uma coisa engraçada no discurso do ódio.
Não tenho clareza do que o livro representa, mas é algo político como nunca fiz, tem um humor que nunca tive. Sempre fui contra a literatura política, atrelada, mas desta vez tinha uma urgência. O livro não busca uma solução. É uma visão trágica das camadas de possibilidades".
 
Bernardo Carvalho

Três formas de estar no Facebook (inspiradas num texto de Fernando Pessoa)

"Vivemos todos longínquos e anónimos; disfarçados, sofremos desconhecidos. A uns, porém, esta distância entre um ser e ele mesmo nunca se revela; para outros é de vez em quando iluminada, de horror ou de mágoa, por um relâmpago sem limites; mas para outros ainda é essa a dolorosa constância e quotidianidade da vida".
 
Fernando Pessoa, O Livro do desassossego


   Três formas de viver a relação com a máscara, com o "Facebook", com todas as nossas redes sociais. Começam a ser definidas, desde criança, a partir da nossa experiência com a primeira rede, a mais íntima: a rede ligando ou não o meu eu profundo com a máscara do social. O primeiro caminho ignora a distância e vira-se para o exterior. Vive numa terrível solidão sem se aperceber.  Assim começa a vida do narcisista, do psicopata ou neurótico social dominados pelo mito da masculinidade. A fonte do empresário inovador e destruidor, como dizia o economista Joseph Schumpeter. Para outros, essa separação aparece como um relâmpago percepcionado com horror ou mágoa - a via do revoltado ou do sofredor. Também é a origem da auto-punição do(a) esquizofrénico(a) fugidío(a). É, na imensa maioria dos casos, necessária a passagem por este momento para, mais tarde, atravessar a ponte. Por fim, na terceira via, a consciência plena e diária desse sofrimento é fonte de energia. A dolorosa constância e quotidianidade da vida. Ponto de partida essencial para uma autêntica in-dividuação.

20/09/13

Diálogos do interior e do anterior (1): "O Anúncio Tailandês Que Fez o Mundo Chorar"



"A percepção é magia. Existe apenas uma magia solar, portadora da Luz favorecendo a iluminação do mágico. O resto é somente ilusionismo, feitiçaria ou busca de poderes. A atitude mágica consiste em fazer pulsar em si um coração de origem celeste para despertar a percepção do invisível."

Texto inspirado em C. J., O mundo mágico do antigo egipto



Diálogos do interior e do anterior (1)
"O Anúncio Tailandês Que Fez o Mundo Chorar"
Voz do interior: Momentos mágicos impossíveis de explicar pela neuro-biologia do cérebro. Na Tailândia. Alguém criou estas imagens que prococaram lágrimas. Milhões delas. Sensações puras. Onde as percepções, momentos posteriores, se desvanecem.  Como se, por momentos e ao mesmo tempo, milhares de rostos fossem iluminados por um vento vindo do fundo do universo. Como se, por breves momentos, momentos de fraternidade e iluminação interior, linhas invisíveis os conectassem com algo superior. Momentos de com paixão.

Voz do anterior: Dar é assim um gesto tão mágico e tão subversivo aos mesmo tempo? Não serão apenas emoções manipuladoras de um anúncio para vender algo? Publicidade à própria agência? E não haverá até algum oportunismo pois valoriza no final a recompensa? Como se nos incentivasse a dar pois é um bom negócio, afinal. Uma espécie de discurso "new age" produtor de emoções fáceis, neste caso boas e generosas mas ineficazes e momentâneas.  Uma espécie de fábulas para entreter os meninos, para eles não terem a noção da dimensão da crueldade avassaladora do capitalismo actual. E, na minha opinião, as pessoas choram para olvidar os seus erros. Para se limparem como se fosse alguém a expiar as suas culpas pelo acto de contricção.

Mas é uma falsa contrição. Um falso sentir dos erros cometidos. Não é um autêntico sentido de culpa mas uma breve culpabilização. E por isso, o retorno ao "pecado" (igual a desarmonia com a natureza), à diabolização, à divisão interior ou, nos piores casos, ao olvidar completo do interior, da voz do coração.

São seres, na sua enorme maioria, fascinados pela feitiçaria do "possuir", como diz o filósofo italiano Giorgio Agamben. Pela ilusão diabólica, pois divide-nos por dentro, da posse de algo. Posse de papéis com números reconhecidos como poderosos. Criando assim avidez, desenvolvendo assim os nossos centros energéticos inferiores: posse territorial, avidez (alimentar e sexual) e narcisismo galopante e cada vez mais psicopata, segundo o psicólogo Arno Gruen.

Mas, pensando bem, há algo, no filme e no seu efeito de verdadeiramente estranho. O efeito do acto de dar. 

Nas ciências sociais, há textos para entender a origem deste efeito. O antropólogo Marcel Mauss escreveu há cerca de cem anos atrás palavras mágicas sobre o tema num ensaio sobre o 'dar'. Esse texto de poucas páginas foi lido por milhares e milhares de pessoas.

Passados muitos anos, alguém o leu e olhou "realmente" em torno de si. Esse homem chamava-se Sen e foi prémio nobel da economia. Com palavras justas carregadas de sabedoria, mostrou ao mundo a via "económica" para seguir sobrevivendo. Para evitar a sua destruição. Algo para ele de calamitoso. Terrivelmente calamitoso.

Essas palavras repetem com um eco a mesma emoção partilhada por milhares de tailandeses. A mesma emoção pura criadora de percepção nua, completamente despida de "sujidades". Esse texto de Marcel Mauss afectou realmente, segundo li algures num texto brasileiro, o cérebro desse economista um pouco estranho. De um modo certeiro, suponho eu, pois as palavras de Sen são muito estranhas para um economista.

Essa teoria económica defende um retorno à economia campesina, uma economia da dádiva, adoptando o termo do ensaio de Marcel Mauss. A fonte inspiradora do economista foi a sociedade indiana. Os aspectos comunitários dos camponeses indianos. Herança talvez da acção do primeiro presidente Gandhi. Um pouco desse fenómeno parece estar acontecer em países do oriente sob influência budista. Ver o caso do Butão.
Voz do anterior
Infelizes tempos vivemos, tempos cheios, mas não plenos, de crueldade.

18/09/13

Uma conversa ecosófica no facebook: a diferença entre o psicopata egocêntrico e o esquizofrénico

Ver filme "Método perigoso" de David Cronenberg legendado em português

18 de Setembro de 2013

Uma voz no facebook:

O autêntico louco tem a arte de nadar em águas bravas, rir de si mesmo em liberdade e aceitação - um gracioso estado terapêutico. Inversamente o esquizo-frénico facilmente se afunda afastando-se do mundo exterior, muitas vezes, para sempre.

Outra voz no facebook:

Ser esquizo significa ter consciência profunda da nossa divisão, cisão interior e exterior. Ser "frénico" remete para algo que se fecha sobre si próprio, que frena e trava constantemente, a mente, a parte do eu. Não se desfaz mas afasta-se passando a ser chamado de "louco". 

Pelo contrário, a "loucura da normalidade" é, de algum modo, mais astuta. Mas é o autêntico perigo podendo, isso sim, conduzir a um desabar catastrófico em momentos de crise. Se a estrutura rígida do "eu" narcísico se "desfaz", deixando cair a "máscara", nos episódios psicóticos provocados por exemplo pela morte da mãe ou uma outra perda muito dolorosa, pode arrastar tudo atrás dele (ver exemplo dado por Bertrand Stiegler). 

Na verdade, o doente mental perigoso é o neurótico ou psicótico da "normalidade", o psicopata, mulheres e homens dominados ou enfeitiçados pelo mito da competição, da "masculinidade" sem coração e sem autênticos sentimentos, desligados do seu eu profundo, da criança que está dentro deles. Se a  sua máscara cai devido a uma crise profunda, ele ou ela mostram sem  enganos a sua profunda falta de empatia e de sentido da culpa.

No momento de "crise", perante a recordação do seu sofrimento original devido a um progenitor autoritário ou manipulador (ou pais modernos social-porreiros e/ou antigos revoltados que incentivam o narcisismo sem limites dos seus filhos "génios"), ele reage pela violência (física ou psíquica) contra si mesmo, somatizando ou suicidando-se física ou socialmente, ou, na maioria dos casos, contra os outros e a natureza.

Há, contudo, uma ideia feita muito perigosa acerca da importância do feminismo. Ou seja, a ideia muito divulgada nas redes que defende a  condição feminina a partir da diferença biológica.  A dualidade masculino/feminino não deve ser vista de uma forma simplista. Nem todos os homens são manipuladores e nem todas as mulheres são vítimas inocentes. O género sexual não é automaticamente construído do ponto de vista biológico. Na nossa sociedade, é, em grande parte, uma construção social. Contudo, os homens, numa sociedade dominada por valores do patriarcado, tendem ser mais do tipo psicopata violento ou, na sua versão mais limpa, sociais e famosos, sedutores e inteligentes. No caso das mulheres, tendem mais para a histeria, depressão e, nalguns casos, para uma esquizofrenia virada para dentro.

Como diz Arno Gruen,

"a psicopatologia masculina manifesta-se mais por um comportamento associal do que a das mulheres, as quais tendem mais para se empenharem numa luta consigo próprias. Oito vezes mais homens que mulheres recorrem à violência quando já não conseguem lidar com os seus problemas. [...] Por outro lado, há o dobro de depressões entre mulheres e para cima de duas vezes mais mulheres que homens a sofrer de esquizofrenia. 

Em problemas mentais, as mulheres [tendem a ficar] numa luta interior, ao passo que homens, desligados do seu interior [devido ao mito ocidental do poder superior do homem baseado na força e na violência, na violação do outro, do outro feminino e da natureza], levam a luta para fora, desejosos de vingança, esperando encontrar lá a salvação. 

O desenvolvimento que desemboca no psicopata "normal" [narcisista na sua face menos cruel] encontra-se, por isso, muito mais frequentemente, nos homens. O seu mito da masculinidade alimenta uma loucura que se disfarça de saúde mental e cuja perigosidade, por essa razão, não foi reconhecida durante muito tempo" (Gruen, 1995, pag. 173). 

Por isso, não se deve confundir o psicopata da normalidade (maioritariamente do sexo masculino que pode assumir, em alguns casos, a forma do revoltado) com o autêntico esquizo-frénico, na sua maioria do sexo feminino. Estes seres de luz ao largarem o seu lado "frénico" de ego, ou o seu medo do social deixam de ser revoltados fugidíos ou introvertidos, para transformarem-se, pouco a pouco, em revoltados assertivos e auto-conscientes. Loucos criativos ligado ao seu eu profundo e sem medo da sua a-normalidade, sem medo do "estar vivo". Um louco sábio com a "arte de nadar em águas bravas, rir de si mesmo em liberdade e aceitação - um gracioso estado terapêutico".

A psicoterapia integral e holística tem sido defendida, desde há mais de 100 anos, por terapeutas como Gregory Bateson, Carl Gustav Jung, Claudio Naranjo, Félix Guattari, etc, etc. Sugerem que pela via de um renascimento induzido, pela sensação estética autêntica, pelo "amor incondicional", etc podem encontrar o seu caminho que não passa pela integração normalizadora defendida pela psicanálise ortodoxa ou pela psiquiatria oficial (ao serviço da indústria farmacêutica). 

Um aviso: estamos a falar de tipos gerais. Na realidade, podem suceder misturas destas formas mais ou menos puras ou até alternarem no tempo. Podem até ter outros nomes e contextos arquetípicos mas, no essencial, funcionam da forma que sugeri. 

Finalmente, na ecosofia da mente (ver Gregory Bateson e Félix Guattari), também se defende que muitas vezes essa cura pode suceder através de seres humanos (a até animais) que, não tendo um título de terapeuta, são autênticos terapeutas na sua vida quotidiana (muitas mães e alguns pais deste país, felizmente!), sendo a maioria deles do sexo feminino. São os "ecologistas" da alma tal como os que recolhem o lixo da cidade como as garrafas de coca-cola para ganharem alguns euros, vagabundos e pobres, são os ecologistas da cidade, como defendem no Brasil. Muitas vezes sem o saberem, sem ser racionalizado. O mesmo se passa, no plano da cura mental e física, com os curandeiros, por exemplo, dos países latino-americanos. Mas isso é outra história...



Termino com as palvras do psicoterapeuta Claudio Naranjo (1998): "de médico, poeta y loco, todos tenemos un poco"... Y en estos tiempos de deshumanización y violencia, nos es vital la conciencia terapéutica".




Arno Gruen, A traição do eu. O medo da autonomia no homem e na mulher, Lisboa, Assírio & Alvim, 1996.
Arno Gruen, A loucura da normalidade, Lisboa, Assírio & Alvim, 1995.
Claudio Naranjo, "Prólogo", in Guillermo Borja, La Locura Lo Cura. Un manifiesto psicoterapéutico, Santiago, Chile, Editorial Cuatro Vientos, 1998. Disponível em: http://www.cuatrovientos.cl/psicoterapia/locuralocurapr.html acessado em 10 de dezembro de 2012.


Nota

Para entender o método terapêutico de Carl Jung ver o filme de David Cronenberg "O método perigoso". Sinopse do filme: "O fascinante diretor David Cronenberg revela um episódio pouco conhecido mas muito marcante na vida dos dois mais importantes psicólogos de todos os tempos. O jovem psicanalista Carl Jung começa um tratamento inovador na histérica Sabina Spielrein, sob influência de seu mestre e futuro colega, Sigmund Freud. Disposto a penetrar mais a fundo nos mistérios da mente humana, Jung verá algumas de suas ideias se chocarem com as teorias de Freud ao mesmo tempo em que se entrega a um romance alucinante e perigoso com a bela Sabina." Ver em:

Narcisismo nas redes digitais e no planeta em geral: um novo vírus mortal?

O narcisismo, a nova peste das redes digitais, é puro egoísmo. É também muito mais do que isso. É a base da forma actual da loucura normalizada chamada capitalismo do consumo em massa. É um vírus que os estudiosos definem como a causa da imensa maioria das psicopatologias e também de imensa destruição somatizada em doenças como o cancro, etc. Esta tese é comprovada infelizmente por milhares de psicólogos, psicoterapeutas em todo o mundo. Não é uma questão moral (apenas), é uma forma de estar no mundo, incentivada e dita normal, exemplo a seguir (de forma claro camuflada com termos como "moda", ser moderno, ser bonita, glamour, elegância, etc, etc...) pelos homens e muitas mulheres (mulheres dominadas pelo paradigma da masculinidade) dos media e do mundo empresarial.
Eu vejo assim as coisas: imagine que se descobria que o ser humano tinha um vírus (como a SIDA) quase genético que é necessário combater, muito perigoso, pois pode originar a destruição do planeta, de todos nós ou, na hipótese mais optimista, tornar a vida dos nossos filhos um pesadelo. Imagine o planeta daqui a 40 anos com o estilo de vida e de consumo a crescer exponencialmente assim como o número de homo sapiens no planeta.
Bem, nesse caso a maioria dos homo sapiens que nos dirigem diriam: "esse vírus é uma calamidade mas é uma questão do foro moral ou religioso. Os que fazem política e os que produzem, os donos das fábricas, escritórios, dirigentes da gestão, esses não têm nada a ver com o combate". Por sua vez, a maioria das religiões oficiais diria: "Bem, isso é mau mas basta cada um destruir o vírus por si, basta ter vontade e claro vir à nossa missa. O narcisista é uma pessoa egoista e nós não o devemos ser". Se perguntar aos seus amigos, colegas e familiares todos lhe vão dizer que não são egoistas. São sempre os outros que têm o vírus.
Perante esta calamidade, você não se indignaria e faria todo o possível por combater o vírus? Certo? O psicanalista Lacan diz-nos que o narcisismo faz parte da epifilogénese do ser humano. É o berço dos psicopatas que nos dirigem por todo o lado e dos que batem todos os dias nas mulheres, nos seus subordinados e nos animais domésticos (muitas vezes de forma virtual, por palavras e pela manipulação, muito mais efectivo e dificil de sarar).
Entendem agora a minha insistência na "Ecosofia da mente nas redes digitais"? Como dizia Gregory Bateson, não basta uma ecologia das ervas daninhas, da poluição e do ambiente físico. É urgente incentivar uma ecologia das ideias daninhas, uma ecologia do narcisismo que não se limite a uma atitude moralista ou psicologista. 

12/09/13

This is Fakebook life!

 
 
"Sometimes, that connection, "talk to myself", has limited connectivity.
 
The other talk, the "talk to others" about himself, make too much interferences, noise. And then, the "talk to myself" became gradually a faketalk, a "talk about myself", a "talk to myself about others that I see as beautiful and cool things that I should have or be".



Too much speed, to much noise of faking faces and emotions, faking sex, faking work, faking fathers, faking everything.

First version of this faketalk - the conformist version: "I am smart, attractive, beautiful and never crazy. Special person, yes. But crazy, never".

Second version of faketalk: the crazy version. "Nowadays, being crazy is cool, YAAA! hold on, yes i am crazzzzy. Not real, you know, not real".

Third version of faketalk: the 'new age' talk. "I don´t have to talk to my self, i do everyday meditation. I have taking courses about that, ceremonials of sacred gods and I know everything about my self. I know my Karmas and i am working hard on this. U know, karmas is no easy.. u know, meditation is coooollll".
 
END
This is Fakebook Life!"


 
in "Anonymous fakebook"

11/09/13

A propósito do "narcisismo" no facebook: notas avulsas sobre a "fase do espelho" referida pelo psicanalista Jacques Lacan



“O homem e a mulher são, do ponto de vista corporal, fetos de primata
 que atingiram [prematuramente] a maturidade sexual” (Bolk, 1960).
É necessário dizer claramente que, ao contrário do discurso dos psicólogos da normalidade, o "narcisismo" não é um desvio ou uma doença. É a característica essencial da sociedade ocidental em que vivemos. Um vírus que tende a aumentar exponencialmente com as redes digitais, com a aceleração do fascínio pelas imagens e, finalmente, com a alucinação "normalizada" que corre nas redes sociais, nos jogos e no sexo digital.
Para se perceber a noção de "narcisismo" referida em posts anteriores, irei recorrer ao psicanalista Jacques Lacan.
Antes, alguns comentários rizomáticos. Acerca do homem como um ser epifilogeneticamente alienado, um ser que tende a viver imenso tempo na "fase do espelho". Uma tendência hipervalorizada no Facebook. 


De acordo com o psicanalista Jacques Lacan, somos seres em angústia, todos potencialmente neuróticos, pela nossa ligação demasiado intensa e longa, mimética com a mãe enquanto bébés. Somos, na verdade, o animal que passa mais tempo nesse estado de total falta de autonomia depois de nascer. De algum modo, o homo sapiens é cientificamente um "nascido"  antes do tempo, um "aborto". Mais tarde, ficamos naturalmente marcados para toda a vida. Dependendo da nossa liberdade e da forma como somos "educados" ou "libertados", podemos seguir sendo egocêntricos num eu-espelho, num narcisismo que a sociedade de consumo incentiva todos os dias. Podemos todos os dias viver na euforia do espelho, numa traição ao eu-profundo (ver livro de Arno Gruen: A traição do eu). Esse narcisismo é o campo onde pode nascer a semente da crueldade psicopata. Ou então, se tivermos sorte, podemos "dar a volta", muitas vezes por caminhos pouco luminosos, encontrando pouco a pouco o nosso eu autêntico, um eu descentrado, pré-individual, como defende algures o filósofo Gilbert Simondon e o psicanalista Carl GustavJung. Mas isso é outra história...

Mas ao contrário, por exemplo de outros animais como o cão, com uma outra percepção visual [menos concentrada na "fovea", no centro da retina] e um uso mais amplo dos sentidos nomeadamente o olfacto, o homem tem um olhar dirigido, analítico, pouco holístico (ver o Manifesto Cyborgue da bióloga e pós-feminista Donna Haraway). O homem está centrado na percepção visual da fovea (necessária para o homem primitivo ter acuidade visual na caça) tendendo por isso, na sociedade actual, a ficar dependente do espelho e das percepções visuais "focadas". Por isso, a insistência doentia nas imagens, no sexo por imagens, na apresentação da nossa "face", na rostridade através, por exemplo, das fotos pessoais no "Facebook".

Este eu-ego, criado no mimetismo da infância na relação com a mãe, é uma "instância de desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho". Um 'Eu' criado pelo nosso Imaginário, "juntamente com fenómenos como o amor, o ódio, a agressividade" (ver "Jacques Lacan", In Wikipedia). São fases imaturas, de máscara mas que podem durar infelizmente toda a vida.

A sociedade do "trabalho-mercadoria" faz todo o possível para que assim seja. Infelizmente, para mal do planeta e das nossa vidas, a maioria dos que nos governam, principalmente os gestores das grandes corporações multinacionais, são no fundo crianças egocêntricas com tendência psicopatas (ver livro do conhecido psicólogo Arno Gruen, "A loucura da normalidade").

Vejamos então o texto de Léa Silveira Sales.

“O homem é, do ponto de vista corporal, um feto de primata que atingiu a maturidade sexual”. 

"

Segundo Lacan (1966, p. 96) há  “[...) Lacan confere o estatuto de “Discórdia primordial [do homem]”; o fato de nascer prematuro – com o mal-estar e a falta de coordenação motora que isso acarreta – não permite ao homem o estabelecimento de relações fisiológicas suficientes com o meio e é essa lacuna que a imagem possui a função de preencher [nomeadamente a importância do olhar da mãe que o apaixonado, um estado de 'pathos', retoma no olhar do amado ou amada]; é ela que passa a mediar a relação do homem com o mundo.


O estágio do espelho constitui, justamente, um dos modos dessa relação: “A função do estágio do espelho revela-se [...] como um caso particular da função da imago, que é estabelecer uma relação do organismo com sua realidade [...]” (Lacan, 1966, p. 96).

Lacan compara o recurso à imago no ser humano ao fenômeno da deiscência (abertura das sementes) na botânica; Bowie (1991, p. 29) esclarece a analogia: “[...] a auto-alienação do sujeito é tão ‘natural’, tão inevitável, quanto a auto-propagação das plantas.”
Segundo Ogilvie (1991), o homem é finalmente definido como um ser inacabado a partir de 1926 com os trabalhos de Bolk que apoiavam essa definição em dois fatores: a neotenia – grande demora no desenvolvimento com relação às outras espécies – e a 
fetalização – existência de traços anatômicos arcaicos: características que, nas outras espécies, pertencem apenas ao estágio fetal permanecem presentes no homem durante toda a sua vida; nas palavras de Bolk (1960 apud Ogilvie, 1991, p. 115): “O homem é, do ponto de vista corporal, um feto de primata que atingiu a maturidade sexual”. 

Para Lacan (1966, p. 186), é preciso, então, que a imagem venha suprir, no homem, as deficiências causadas pela neotenia e pela fetalização

“É em função desse atraso do desenvolvimento que a maturação precoce da percepção visual adquire seu valor de antecipação funcional”. 

Léa Silveira Sales, "Posição do estágio do espelho na teoria lacaniana do imaginário" 

#ecosophyofmind #deepecologyofmind

#ecosophyofmind #deepecologyofmind
What is the ecosophy of the mind or, more simple, the deep ecology of the mind?
Is a knowledge and a state of conscience based on the ancient tradition, namely Maya and Buddhism, and the work of Arne Naess, Arno Gruen, Félix Guattari, Carl Gustav Jung and Gregory Bateson (and many others, of course). It is a kind of deep ecology applied do the mind.
As we know, Arne Naess, the father of the concept of deep ecology, "has come under many influences, most notably Gandhi and Spinoza. The Buddhist influence on his work, though less pervasive, provides the most direct account of key deep ecological concepts such as Self‐realization and intrinsic value. Like early Buddhism, Naess responds to the human suffering that causes environmental destruction by challenging us to return to the reality of lived experience"
(Curtin, 1996: 239).
Deane Curtin, "A state of mind like water: Ecosophy T and the Buddhist traditions", In Inquiry: An Interdisciplinary Journal of Philosophy, Volume 39, Issue 2, 1996 (Special Issue:Arne Naess's Environmental Thought), 239-253.  
[http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00201749608602419 acessed in 10 October 2012]
© José Pinheiro Neves